Imagine que você é um advogado que precisa preparar a defesa de um caso muito complexo em que você está trabalhando. É 2027, e em vez de ter que buscar ou no Google ou até em seus livros impressos todas as leis e artigos em cima dos quais você vai preparar a defesa, você conversa com o Cicero, seu bot de IA generativa de direito. Com base em todo conhecimento específico das leis e dos casos passados, que nenhum ser humano conseguiria lembrar, o Cicero vira o seu assistente para trocar ideia sobre a melhor defesa.
Ele te provoca a pensar mais, te ajuda a obter conteúdo, mas também como um jogador de xadrez profissional, te ajuda a antecipar quais podem ser as possíveis contra argumentações da prossecução. Isso te prepara de forma muito melhor para defender o caso do que a forma tradicional de consumir conteúdo e estudar de forma analógica.
O único grande problema?
O advogado da prossecução fez o mesmo e usou o Cicero também. O Cicero foi desenvolvido por uma start-up que otimizou o modelo de linguagem do Open AI, para adaptá-lo melhor ao mundo da jurisprudência, e inclusive tem tantas interações que o modelo aprende cada uma delas ao mesmo tempo que melhora e aumenta o seu conhecimento. O Cicero é um unicórnio, e cada vez mais estão surgindo negócios como esses em todos os setores.
E é sobre esses novos negócios que o mundo da IA vai gerar, que iremos abordar neste artigo.
Iremos falar desses novos modelos de negócio no mundo da Inteligência Artificial, e de como podemos melhor inovar por setor, e é justamente sobre isso que o Sam Altman, CEO e co-fundador do OpenAI, a empresa atrás do Chat-GPT, nos fala nessa próxima frase. Veja no vídeo abaixo e não se esqueça de ativar as legendas.
“Eu acredito que haverá uns poucos modelos grandes e fundamentais por aí, em cima dos quais outras pessoas construirão, mas no momento o que acontece é que uma empresa cria um grande modelo de linguagem, API e outras pessoas constroem por cima, e eu acho que haverá uma camada intermediária que se tornará realmente importante, onde - e eu sou um pouco cético em relação a todas essas startups que estão tentando treinar seus próprios modelos, não acho que isso vai continuar - mas o que eu acho que vai acontecer é que haverá um grupo totalmente novo de startups que pegarão um modelo existente muito grande do futuro e o ajustarão (que não é apenas um ajuste fino, mas todas as coisas que você pode fazer - haverá muito acesso fornecido) para criar o modelo para a medicina, usando um computador, ou o tipo de modelo amigo, e assim por diante, e essas empresas criarão muito valor duradouro porque terão uma versão especial que não precisarão criar o modelo básico, mas terão criado algo que podem usar apenas para si ou compartilhar com outros, que tem esse fluxo de dados exclusivo que melhora ao longo do tempo e tudo mais. Então, acho que terá muito valor criado nessa camada intermediária.”
Em 2015, ao terminarem a residência médica, três médicos jovens do RJ decidiram tirar um ano sabático para se dedicar aos negócios da PEBMED, uma empresa de tecnologia aplicada a area médica. Entraram para uma aceleradora de startups no Rio de Janeiro e resolveram fundir o que havia de melhor em seus apps em apenas um só. Assim nasceu o Whitebook, que é praticamente um aplicativo que resume todas as informações médicas e as torna muito simples de buscar.
O aplicativo começou a bombar entre estudantes de medicina, e inclusive entre médicos, e tornou a empresa um grande sucesso, ao ponto de que 100% da empresa em julho de 2021 foi adquirida pela Afya, um grande grupo educacional de medicina, pelo valor líquido de R$ 132,9 milhões. Foi um grande sucesso, e eu até cheguei a conhecer o Bruno Lagoeiro, CEO e fundador, na época que eu era Diretor do Tinder no Rio também, e admirei demais a sua habilidade não somente de ser um médico, mas também um homem de negócios ao mesmo tempo.
Afinal, qual a chave de sucesso do Whitebook?
Foi a habilidade de usarem uma tecnologia que estava crescendo muito na época, ou seja aplicativos móveis, na área de medicina, e fundamentalmente melhorar a vida do cliente. Se na época a grande sacada era trabalhar aplicativos para segmentos específicos, hoje, como também ouvimos da fala do Sam Altman, a nova grande sacada será ter soluções setoriais específicas empoderadas pela Inteligência Artificial.
Me explico melhor, através de um exemplo do ChatGPT: em Março de 2023, A Open AI lançou APIs de desenvolvedor para o modelo ChatGPT. A API do ChatGPT utilizará o modelo de IA "gpt-3.5-turbo" e permitirá que os desenvolvedores adicionem versões do popular chatbot em seus aplicativos, sejam inalteradas ou modificadas.
A My AI da Snap, plataforma do Snapchat, já é um dos primeiros exemplos de uso da API, juntamente com um novo recurso de tutor virtual para a ferramenta de estudo online Quizlet e uma futura ferramenta Ask Instacart no popular aplicativo de compras locais. Vale ressaltar que a API não se limitará apenas a bots de marca que imitam o ChatGPT, mas poderá ser usada para alimentar experiências de software "não-chat" que possam se beneficiar da inteligência artificial.
A OpenAI divulgou que a API do ChatGPT terá um custo de US$ 0,002 por 1.000 tokens, o que equivale a cerca de 750 palavras. Além disso, a empresa está oferecendo uma opção de capacidade dedicada para desenvolvedores com orçamentos mais elevados, que esperam utilizar mais tokens do que o limite disponibilizado pela API padrão.
A possibilidade de construir em cima de APIs de empresas que desenvolvem Large Language Models como a OpenAi gera oportunidades extraordinárias de revolucionar segmentos da economia que todo líder, empresário ou empreendedor deveria se aproveitar.
Vamos usar como exemplo uma companhia química, ou o setor químico de forma geral, que inclusive é um setor bastante tradicional ainda. Um pouco como o Whitebook fez com o acesso a informação, agora você poderia ter a disposição de forma mais simples, na medida que for uma empresa química, algoritmos que podem te ajudar a inovar. Como?
Alguns exemplos vem de 2 áreas de impacto, por exemplo:
- Desenvolvimento de produtos:
Com a API do ChatGPT, você pode gerar novas ideias de produtos ou melhorar as existentes, analisando o feedback dos clientes, identificando tendências emergentes e explorando novas aplicações para seus produtos. Por exemplo:
- Analisando o feedback dos clientes: Você pode usar a API para analisar avaliações dos clientes, postagens nas redes sociais e outras fontes de feedback para identificar temas comuns e pontos problemáticos. Isso pode ajudá-lo a entender o que os clientes gostam e não gostam em seus produtos e gerar ideias para novos recursos ou produtos que atendam às suas necessidades.
- Identificando tendências emergentes: Você pode usar a API para analisar publicações do setor, postagens nas redes sociais e outras fontes de informação para identificar tendências e tecnologias emergentes. Isso pode ajudá-lo a se manter à frente da curva e desenvolver produtos que atendam às necessidades dos clientes em constante evolução.
- Explorando novas aplicações: Você pode usar a API para analisar publicações científicas e outras fontes de informação para identificar potenciais novas aplicações para seus produtos. Isso pode ajudá-lo a expandir sua oferta de produtos e entrar em novos mercados.
2. Pesquisa e desenvolvimento:
Com a API do ChatGPT, você pode gerar novas ideias de pesquisa ou explorar novas áreas de pesquisa, analisando a literatura científica, identificando lacunas no conhecimento e gerando hipóteses para novos experimentos. Por exemplo:
- Analisando a literatura científica: Você pode usar a API para analisar publicações científicas e identificar padrões e tendências na pesquisa. Isso pode ajudá-lo a identificar áreas onde novas pesquisas são necessárias e gerar hipóteses para novos experimentos.
- Identificando lacunas no conhecimento: Você pode usar a API para analisar publicações científicas e identificar áreas onde há falta de conhecimento ou resultados conflitantes. Isso pode ajudá-lo a focar seus esforços de pesquisa e priorizar áreas onde mais pesquisa é necessária.
- Gerando hipóteses: Você pode usar a API para gerar novas hipóteses para experimentos com base na literatura científica disponível. Isso pode ajudá-lo a desenvolver novas ideias de pesquisa e explorar novas áreas de pesquisa.
A verdade é que isso já está acontecendo em outros setores, como por exemplo o Farmacêutico: você sabia que os cientistas de IA da Insilico Medicine trabalham com IA generativa desde 2018 para gerar novos compostos químicos que podem ser desenvolvidos em novos medicamentos para tratar doenças? A plataforma de química de IA generativa da Insilico Medicine é uma das aplicações mais empolgantes de IA na área da saúde.
Chemistry42 é uma plataforma automatizada de aprendizado de máquina para design de medicamentos capaz de encontrar novas estruturas semelhantes a chumbo em dias. A plataforma conecta algoritmos de IA generativos de última geração com metodologias de química medicinal e computacional para gerar novas estruturas moleculares com propriedades otimizadas.
Nesta semana, cientistas da Insilico Medicine publicaram um artigo descrevendo como eles usam IA generativa para projetar rapidamente novas estruturas moleculares que visam proteínas que desempenham papéis essenciais na progressão da doença. O artigo, intitulado Chemistry42: An AI-Driven Platform for Molecular Design and Optimization, foi publicado esta semana no Journal of Chemical Information and Modeling.
Existem chances enormes de gerar novas oportunidades, seja para dentro da empresa se você for o líder de uma companhia tradicional, ou seja lançando uma nova start-up se você for um empreendedor - pois resgatando a analogia de como a refrigeração gerou a Coca-Cola, o mundo da IA irá gerar as novas Coca-colas do futuro que irão nascer a partir da interseção não apenas da Inteligência Artificial, mas da sua acessibilidade através de APIs, e setores tradicionais da economia.
