Quando eu era mais novo, lembro de certos dias em que minha mãe, -que é cientista em uma universidade na Itália-, voltava tarde do trabalho para casa, e me abraçava com um grande sorriso no rosto. Era evidente que estava muito animada, feliz, mas não só de me ver, mas também de como foi o dia no trabalho. Era ai que eu já me animava também, me imaginando virar o filho de uma ganhadora do premio Nobel, e lhe perguntava: “Mãe, me conta: o que você descobriu?”. E ela me olhava surpresa: “Como assim, Andrea! Não descobri nada não”.
É assim que eu ficava frustrado, e retrucava sem entender: “Como assim mãe? Você voltou animada do trabalho, e se seu trabalho consiste em descobrir coisas, como você considera um dia bom de trabalho se você não descobriu nada?”.
A resposta que ela me dava fica até hoje ecoando em minha cabeça, e me ensinou que afinal, na vida e nos negócios, nem todos os erros são ruins, mas existe uma certa categoria de erros que é boa. Ela me dizia: “É porque hoje eu consegui fazer muitos experimentos, e mesmo que todos tenham fracassado, eu aprendi um monte de coisas novas e estou mais próxima da descoberta”.
Alex Banayan é o autor de negócios mais jovem a se tornar best-seller na história americana. 'The Third Door' relata a busca de sete anos de Banayan para descobrir a mentalidade definitiva de crescimento exponencial e sucesso ao entrevistar os líderes mais inovadores do último meio século, incluindo Bill Gates, Lady Gaga, Larry King, Maya Angelou, Steve Wozniak, Jane Goodall, Jessica Alba, Quincy Jones e mais.
Ele é um grande palestrante, e em uma de suas palestras ele falou a frase abaixo que me chamou muito a atenção, onde fala que o oposto do sucesso não é o fracasso. Ouça só.
https://www.instagram.com/reel/Cxifcmdr5eW/?igshid=ODk2MDJkZDc2Zg%3D%3D
“Eu estava sentado e tive um entendimento profundo que eu tinha passado toda minha carreira com o entendimento de que o oposto de sucesso é fracasso, e indo atrás para mensagem implícita e explicita, o que nos ensinam na escolinha? Que o oposto de para cima é para baixo, que o oposto de sucesso é fracasso. Mas não foi até o momento em que eu estive sentado com o Quincy Jones, que eu pude finalmente ver que sucesso e fracasso não apenas não são opostos, mas são lados opostos da mesma moeda. Porque são ambos os resultados da mesma coisa: são o resultado de tentar. Então o oposto de sucesso não é o fracasso, mas o oposto do sucesso é não tentar”.
Recentemente a Forbes Brasil publicou em seu Instagram uma frase do empresário Adam Osborne, que foi pioneiro na criação do primeiro computador pessoal portátil em 1981: “a coisa mais valiosa que você pode cometer é um erro. Você não aprende nada sendo perfeito”. Eu adorei, e ainda mais adorei o comentário do meu aluno da Mentoria “Arte de Palestrar”, o grande Fernando Barra, comentando “Muitas vezes “estar certo” pode ser um grande erro. Errar não é divertido e o processo para reconhecê-lo é doloroso, mas só existe aprendizado quando admitimos a falha e buscamos um novo caminho. Quando você aprende e se alegrar ao descobrir um erro, se abre para aprender mais”.
É fato que cultura do erro - e de novo, não da banalização do erro, mas do entendimento que se pode ter do erro fundamental para o processo de reinvenção do seu negócio e de inovação - é um dos temas mais em alta nas empresas, ao ponto que minha palestra “Antifragilidade e Cultura do Erro” é uma das mais demandadas hoje. Mas vamos destrinchar melhor os mecanismos pelos quais sucesso e fracasso não são opostos, mas sim, complementares e duas faces da mesma moeda.
Vamos pensar nos produtos ou serviço que vendemos, no meu caso palestras. Tenho que admitir, agora faz umas semanas que meu negócio tem ido mais devagar do que o normal: talvez seja o mercado, a competição, será que tenho me posicionado de forma errada? - Bom, ainda não sei o que é, mas sei que está mais devagar do que o normal.
Vamos pensar nos períodos em que vendo muita palestra. Quando vendemos uma palestra, é muito emocionante. É uma espécie de vitória, por exemplo, assinar com um novo cliente. Você está animado com a próxima oportunidade de trabalho. Está animado em trabalhar com o novo cliente. Está entusiasmado com as receitas e lucros que isso trará para o negócio. No geral, há uma sensação de emoções positivas no ar ao redor do escritório.
Depois, há o oposto. E se você não conseguir o contrato com o potencial novo cliente? E se você ficar em segundo lugar? Se ele não fechar com você? Você se sente decepcionado, um pouco como eu ultimamente. Talvez comece a ficar para baixo. Todo aquele árduo trabalho, tempo e esforço investidos no processo de venda e apresentação do projeto. Você pensou que poderia ter o contrato daquela palestra. Conseguir este novo cliente teria feito o seu dia, seu mês, seu ano. Mas isso não aconteceu. E agora?
Pergunte a si mesmo:
Como eu vejo ambas as situações de negócios?
Bom, a melhor resposta é:
Veja ambas as situações de negócios da mesma maneira.
Eis o porquê:
Se você e sua empresa ganham o novo contrato e conquistam um novo e valioso cliente, você pode aproveitar a vitória naquele dia e dizer: Isso é ÓTIMO! Isso é FANTÁSTICO! Mas no próximo dia útil, a realidade precisa se estabelecer rapidamente. Pense no "e agora?" e no "o que fazer a seguir" para manter os negócios entrando pela porta.
Foi ontem que você fez a venda. Onde está a próxima oportunidade de atender outro cliente e lucrar para a empresa? Em outras palavras, o que você vendeu hoje? Você não pode apenas se acomodar nas suas vitórias. Continue avançando em busca de MAIS sucesso nos negócios. A única maneira de fazer isso é voltar ao jogo imediatamente.
O mesmo se aplica quando você enfrenta uma perda nos negócios. Você perde um cliente. Perde um contrato. Você pode, por assim dizer, lamentar a perda. Mas este luto deve ser breve. Você não pode se entregar a tristeza por muito tempo - pelo menos não nos negócios. É hora de ser mais estratégico sobre o seu negócio. Diga a si mesmo: Eu não consegui aquele, mas vou encontrar outro. Hora de mudar minha atitude. Seja positivo. Olhe para frente. Recupere a sua atitude vencedora agora.
Seja você vencendo nos negócios, o que é preferível, ou perdendo, o que não é preferível, só pode vivenciar essas emoções por um curto período de tempo. Depois, é essencial voltar aos trilhos com seus objetivos de negócios.
O engraçado é que na ciência isso é muito mais claro do que nos negócios, como comentei no exemplo de abertura do episódio com o caso da minha mãe. Para um cientista, as únicas pessoas que nunca fazem erros e nunca experimentam o fracasso são aquelas que nunca tentam.
A partir disso podemos entender que numa empresa onde o erro não é permitido e onde se aponta o dedo após um fracasso sem nem perguntar pelo aprendizado que se obteve, o que mais irá acontecer é ter pessoas que não tentam o suficiente. Pense no que acontece se você errar uma primeira vez, e for punido. Se errar uma segunda vez e for punido. se errar uma terceira vez, e for punido….você vai tentar novamente uma quarta vez? Obvio que não, vai pensar: como eu faço o possível para evitar de errar, e não cair na punição? Dessa forma a empresa será extremamente produtiva e eficiente, e terá minimizado os erros ...o único problema? Terá equipes totalmente desengajadas com seu processo de inovação e reinvenção pois não tentam o suficiente.
Uma cultura que celebra a tentativa, mesmo que fracassada, me lembra da cultura dos primeiros dias no Tinder, o app de relacionamento que liderei no Brasil por 5 anos.
O Tinder tinha um desafio de monetizar o app, que tinha sido lançado de forma 100% gratuita. Como fazer dinheiro com ele? Obviamente ninguém tinha a resposta, e por isso começaram os experimentos, e a tentar coisas diferentes - mesmo sabendo que isso podia levar ao erro. Alguns exemplos? O lançamento do Tinder Moments, uma funcionalidade estilo Stories hoje em dia (onde as fotos sumiam após 24h)...foi um fracasso, e logo menos retirada do app. Depois veio a vez do Tinder Social, uma forma de você conhecer pessoas em grupos, e não necessariamente de forma individual….foi um fracasso (ainda mais a nível de imprensa), e por isso foi retirado do app. Mas entre vários erros, veio um grande acerto: o Tinder Passport, uma forma de você poder mudar a sua localização no mundo por meio de uma pequena taxa. Resultado, foi um enorme acerto que fez o Tinder virar o app de maior faturamento no App Store do Brasil. Teria acontecido sem os erros e aprendizados anteriores? Certamente não.
Mais um exemplo, que certamente você conhece: Game of Thrones. "Game of Thrones" (GoT) é baseada na série de livros "A Song of Ice and Fire", de George R.R. Martin. Quando a HBO decidiu adaptar esses livros em uma série, ela estava assumindo um risco. As histórias eram complexas, cheias de personagens e com muitos cenários diferentes. Além disso, até então, séries de fantasia épicas eram vistas como um nicho.
A pilotagem do episódio inicial não foi bem recebida internamente, e muitos consideraram um "erro". Houve problemas com o elenco, o roteiro e a direção. Em muitas empresas, isso poderia significar o fim de um projeto. No entanto, a HBO decidiu dar outra chance e investir na reformulação do piloto. Depois de regravar o piloto e fazer ajustes com base no feedback, "Game of Thrones" foi lançado e tornou-se uma das séries de maior sucesso da televisão moderna. Ganhou inúmeros prêmios e acumulou um enorme número de fãs em todo o mundo.
A lição aqui é que, ao invés de descartar um projeto após um "fracasso", a HBO mostrou resiliência e vontade de aprender com seus erros. Em vez de ver o piloto problemático como uma falha final, eles o viram como uma oportunidade de aprendizado e ajuste. Essa mentalidade é fundamental para a promoção de uma cultura do erro, onde erros são vistos não como falhas catastróficas, mas como oportunidades de aprendizado e crescimento.
Então como lembrete final, vamos aproveitar para relembrar da mensagem principal aqui: sucesso e fracasso não são opostos como se pensa, mas um pouco como o Ying e o Yang, são duas faces da mesma moeda pois cada um tem um pouco do seu oposto. O que é o oposto do sucesso então? É obviamente não tentar, que é muito mais perigoso do que experimentar e errar…porque? Porque você não aprende nada no meio.
