Na Itália, quando terminei o colegial, escolhi ir para uma escola de ensino médio chamada Liceo Classico, onde você estuda literatura, filosofia, grego antigo, latim e afins…ou seja pouca ciência e matemática, mas quase total foco nas humanas! Foi na faculdade de economia alguns anos depois que senti essa falta, na hora de estudar para matemática financeira…tive que reaprender tudo.
Mas voltando ao liceo clássico, eu lembro que as salas de aula eram muito teóricas, onde se repassava conhecimento de forma pouco engajadora e massante que eu me encontrava frequentemente brincando de Minhoquinha, o famoso joguinho do Snake, ou seja totalmente desfocado do conteúdo da aula.
Ao mesmo tempo, as aulas eram longas, e passávamos muito tempo na escola e dedicamos muito mais tempo do que foi necessário a aprender temas que se repassados de forma mais objetiva, teriam demorado muito menos. Ah, e também por ser tão pouco engajador, eu sentia tudo isso tão distante que nem era um pouco emocionalmente conectado com o que eu aprendia.
Resultado? Mesmo que eu fosse um ótimo aluno e tivesse ótimas notas, hoje eu não lembro quase nada do que estudei…e isso é uma grande pena.
Agora, eu fico pensando: e se tivesse uma máquina do tempo e pudesse ir atrás para a Roma e Grécia antiga, sentar na praça pública e escutar e argumentar diretamente com Sócrates ou com o estoico imperador Marco Aurélio, não teria aprendido mais?
E mesmo que você me diga: "Mas Andrea, máquina do tempo não existe! Para de sonhar". Eu responderia que sim tem algo bem próximo disso, ou seja o Metaverso - que nos permite recriar essas experiências. E é sobre como a Realidade Virtual e o Metaverso conseguem transformar a educação (corporativa também) que iremos abordar neste artigo.
Deixe eu começar contando para você da Strivr. A Strivr é uma companhia que oferece uma plataforma de treinamento em VR tendo em mente um altíssimo número de colaboradores – ao contrário de Meta, Microsoft e Apple, que visam consumidores e não pessoas que estão dentro das empresas. Fundamentalmente o desafio da Strivr é pensar em como treinar pessoas numa alta escalabilidade através de headsets de VR.
As vantagens são claras: Quando você coloca um headset por 20 a 25 minutos e aprende fazendo, você obtém o mesmo resultado de aprendizado que assistir a uma palestra no PowerPoint por três horas. Ao mesmo tempo, situações como trabalhar em uma linha de montagem da Ford onde os carros passam a cada 15 segundos e os óculos estão me dizendo exatamente o que fazer, faz com que se reduzam riscos e se otimize o aprendizado.
Isso não é achismo, atenção, mas é comprovado por um estudo recente da PwC, que teve o objetivo de medir o impacto do treinamento de Soft Skills em colaboradores entre 3 métodos diferentes: sala de aula, e-learning e metaverso. E os resultados foram surpreendentes! Eles tiveram 5 aprendizados principais, onde os treinamentos em VR foram melhores ao longo dos eixos de rapidez, confiança, conexão emocional, foco e preço.
Quais são esses aprendizados, em específico?
- Funcionários em cursos de VR podem ser treinados até quatro vezes mais rápido.
Os funcionários dos EUA normalmente gastam apenas 1% de sua semana de trabalho em treinamento e desenvolvimento, portanto, os empregadores precisam ter certeza de que usarão esse tempo de forma produtiva. É aí que a VR pode ajudar.
O que levou duas horas para aprender em sala de aula poderia ser aprendido em apenas 30 minutos usando VR.
2. Também, os alunos de RV estão mais confiantes em aplicar o que aprenderam.
Por fornecer a capacidade de praticar em um ambiente imersivo e pouco estressante, o treinamento baseado em RV resulta em níveis mais altos de confiança e uma capacidade aprimorada de realmente aplicar o aprendizado no trabalho. Na verdade, os alunos treinados com RV ficaram até 275% mais confiantes para agir de acordo com o que aprenderam após o treinamento – uma melhoria de 40% em relação à sala de aula e de 35% em relação ao treinamento de e-learning.
3. Os funcionários estão mais emocionalmente conectados ao conteúdo de RV.
As pessoas se conectam, entendem e lembram das coisas mais profundamente quando suas emoções estão envolvidas, e aqui os alunos VR se sentiram 3,75 vezes mais conectados emocionalmente ao conteúdo do que os alunos da sala de aula e 2,3 vezes mais conectados do que os que fizeram o e-learning. Três quartos dos alunos entrevistados disseram que durante o curso de VR sobre diversidade e inclusão, eles tiveram um momento de despertar e perceberam que não eram tão inclusivos quanto pensavam que eram.
4. Além disso tudo, os alunos de RV estão mais focados.
Os alunos de hoje são muitas vezes impacientes, distraídos e sobrecarregados. Muitos alunos não assistem a um vídeo durante sua duração inteira, e os smartphones são uma das principais causas de interrupção e distração.
Com o aprendizado de RV, os usuários ficam significativamente menos distraídos. Em um headset VR, simulações e experiências imersivas comandam a visão e a atenção do indivíduo. Não há interrupções nem opções de multitarefa. No estudo da PwC, os funcionários treinados em RV foram até quatro vezes mais focados durante o treinamento do que seus colegas de e-learning e 1,5 vezes mais focados do que seus colegas de sala de aula. Quando os alunos estão imersos em uma experiência de RV, eles tendem a tirar mais proveito do treinamento e ter melhores resultados.
5. E por último, a cereja no bolo é que o aprendizado de RV pode ser mais econômico em escala…um pouco também graças a empresas como a Strivr faz!
No passado, a RV era muito cara, complicada e desafiadora para ser implantada fora de um pequeno grupo. Hoje, o custo de um headset corporativo é uma taxa única de menos de US $1.000, e essas unidades podem ser gerenciadas como qualquer outro dispositivo móvel corporativo e podem ser usadas repetidamente para fornecer treinamento. O estudo mostra que quando entregue a um número suficiente de alunos, estima que o treinamento em RV seja mais econômico em escala do que em sala de aula ou e-learning. Como o conteúdo de RV exige inicialmente um investimento até 48% maior do que cursos semelhantes em sala de aula ou e-learning, é essencial ter alunos suficientes para ajudar a tornar essa economia de escala. Com 375 alunos, o treinamento em RV alcançou a paridade de custos com o aprendizado em sala de aula. Com 3.000 alunos, o treinamento em RV tornou-se 52% mais econômico do que em sala de aula. Com 1.950 alunos, o treinamento em RV alcançou a paridade de custos com o e-learning. Quanto mais pessoas você treinar, maior será o seu retorno em termos de tempo do funcionário economizado durante o treinamento, bem como facilitação do curso e outras economias de custos diretos.
Foi por isso que a The Academy, ou seja a universidade corporativa da Bank of America, foi a primeira empresa de serviços financeiros a lançar programas de treinamento virtual em suas 4.300 agências no outono passado. A Academia lançou cerca de 30 módulos de aprendizado de VR este ano, desde conversas com um cliente ou funcionário até situações de gestão de crise. John Jordan, o head da The Academy, disse que quando eles testaram o programa pela primeira vez em 2019, 97% dos participantes se sentiram mais à vontade para realizar suas tarefas após o treinamento em RV.
"Como começar, deve estar se perguntando, porque não duvido que você esteja já imaginando o ceticismo que as pessoas possam ter diante disso. Bom, O John Jordan nos dá umas dicas: se alguém está considerando como a RV pode desempenhar um papel em seu programa de L&D, ele os encorajaria a experimentar, porque existe ceticismo, é óbvio, mas que uma vez que se experimenta se nota a diferença a respeito de qualquer outro método de ensino.
Olhando para o futuro, Jordan diz que a Academia não vai parar até eles terem um headset em todos os centros financeiros dos EUA. Eles estão explorando programas de VR para abordar questões como saúde mental e ajudar as pessoas a relaxar, treinamento em empatia e diversidade e programas de inclusão, entre outros.
Embora Jordan diga que sempre haverá valor em interações reais e apertos de mão reais, ele não quer descartar a possibilidade de todos os funcionários terem um dispositivo de RV à medida que as novas gerações crescem com a tecnologia à sua disposição.
A Academia espera ter um milhão de sessões práticas em experiências de aprendizado simuladas até 2023 – Jordan vê isso como um milhão de oportunidades para melhorar.
Impressionante, não é?
É por isso que precisamos entender que a cada vez mais o Metaverso, e suas tecnologias anexas, permitem com que a gente maximize o retorno de nossos investimentos em Treinamento e Desenvolvimento, e tenha maior efetividade.
Olhemos na área médica: O treinamento médico – e particularmente o treinamento cirúrgico – tem sido complexo e de alto risco. Ou seja, é difícil ganhar familiaridade com o corpo sem acesso a corpos reais. Isso nem sempre é simples quando há vidas de pacientes em jogo.
Isso está mudando com o VR:
Em 2020, a Johnson & Johnson fez parceria com a Osso VR e distribuiu cerca de 200 headsets Oculus Quest para cirurgiões nos EUA. A Spinology, fabricante de dispositivos de cirurgia da coluna, fez parceria com a Ghost Productions, desenvolvedora de simulação cirúrgica de VR, para integrar o treinamento baseado em VR para suas equipes de vendas. A Spineology visa educar o pessoal de vendas em seus dispositivos para que eles possam melhorar o envolvimento com os fornecedores médicos.
Em termos de AR, empresas como Aris MD e Echopixel estão procurando se firmar nesse setor. O Aris MD oferece visualização em 3D da anatomia do paciente, permitindo que o cirurgião realize o procedimento no espaço virtual. Enquanto isso, o Echopixel cria um 'gêmeo digital' de um paciente usando imagens médicas padrão, permitindo que os médicos experimentem essa imagem como um 'holograma interativo 4D'.
Isso pode mudar de forma radical a maneira em que estudantes de medicina estudam, mas também como cirurgiões são treinados!
De forma geral, se pensarmos na educação hoje em dia, ainda é uma herança de um mundo analógico - e educação corporativa também não é tão diferente. Se olharmos para as salas de aula, elas não mudaram tanto ao longo das últimas décadas - enquanto o mundo mudou de forma radical! É por isso que temos que abrirmos a cenários onde XR e o metaverso nos permitem aprender, e ensinar para os outros - sejam nossos alunos ou colaboradores - de forma mais focada, assertiva, engajadora, para finalmente obter o que todos queremos: não apenas o conhecimento teórico, mas sim a habilidade de aplicar os aprendizados ao negócio.
