O Futuro do Trabalho na Era da IA: Por que o Paradoxo Está em Voltar ao Passado
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Andrea Iorio

18 de setembro, 2025 |
7 min

“Se você me perguntar quais trabalhos vão ainda existir no futuro, minha aposta mais segura seria: seja um encanador”.

A frase provocadora é de Geoffrey Hinton, considerado o “padrinho da inteligência artificial” e ganhador do Prêmio Nobel de Física em 2024. E, embora pareça um exagero, ela traduz uma verdade incômoda: a IA avança rapidamente nas tarefas cognitivas, mas ainda está muito distante de dominar a manipulação física e a adaptabilidade humana.

Neste artigo, vamos explorar como a IA está transformando o mercado de trabalho, quais profissões estão mais em risco — e por que o futuro dos empregos pode estar justamente na valorização de habilidades que parecem do passado.


O Café Que a IA Ainda Não Consegue Fazer

Para entender as limitações atuais da IA, vale recorrer ao Coffee Test, proposto por Steve Wozniak, cofundador da Apple. A ideia é simples: será que um robô com IA seria capaz de entrar em uma casa aleatória, localizar a cozinha, identificar os utensílios e preparar uma xícara de café — sem instruções prévias?

Para nós, humanos, isso pode parecer trivial. Mas, na prática, envolve um conjunto de habilidades que a IA ainda não domina:

  • Percepção contextual: diferenciar açúcar de sal ou uma caneca de um copo medidor.
  • Navegação espacial: mover-se em um ambiente desconhecido, tomando decisões em tempo real.
  • Senso comum: saber que a cafeteira precisa de água ou que a caneca deve estar sob o bico antes de apertar o botão.
  • Manipulação física: segurar objetos delicados, dosar água ou encaixar filtros corretamente.

Enquanto a IA se destaca em ambientes estruturados, com regras fixas e dados abundantes, ela ainda tropeça no mundo caótico e imprevisível da vida real. Essa é a chave para entender o paradoxo do trabalho do futuro.


Onde a IA Está Substituindo Empregos

Apesar dessas limitações, o impacto da IA no emprego já é profundo. Três tendências principais se destacam:

1. Pressão sobre trabalhos cognitivos

Dario Amodei, CEO da Anthropic, alerta que a IA pode eliminar até 50% dos cargos administrativos de nível inicial nos próximos anos. A Meta já sinalizou essa direção: em 2025, Mark Zuckerberg afirmou que a empresa teria uma IA capaz de atuar como um engenheiro de nível intermediário — reduzindo a necessidade de humanos para essas funções. Pouco depois, anunciou a demissão de 5% de sua força de trabalho.

Esse movimento deve se intensificar com a ascensão dos agentic AI, agentes autônomos capazes de executar tarefas humanas de forma contínua e muito mais barata.

2. Redução de vagas de entrada

O desafio não está apenas na substituição de empregos, mas na ausência de novas vagas. O CEO da Shopify, Tobias Lütke, chegou a decretar que qualquer nova posição na empresa deve ser justificada: por que essa tarefa não pode ser feita por uma IA?

Os números confirmam a tendência: um relatório do Stanford Digital Economy Lab mostra que trabalhadores em início de carreira, de 22 a 25 anos, em áreas mais expostas à IA, sofreram uma queda de 13% na empregabilidade.

3. Redefinição das profissões mais relevantes

Um estudo da Microsoft analisou interações de usuários com o Bing Copilot e criou um “índice de aplicabilidade da IA”. O resultado foi claro: profissões baseadas em coleta de informações, redação e análise são as mais afetadas. Entre elas:

  • Intérpretes
  • Jornalistas
  • Matemáticos
  • Representantes de vendas
  • Consultores financeiros

Já os empregos menos impactados eram justamente aqueles que envolvem habilidades físicas e relacionais:

  • Enfermeiros e técnicos de enfermagem
  • Cirurgiões orais
  • Massoterapeutas
  • Engenheiros navais
  • Montadores de pneus
  • Telhadistas
  • Camareiras

O Paradoxo dos Trabalhos do Futuro

Por milhares de anos, a sobrevivência humana esteve atrelada a competências físicas: força, destreza, resistência. Depois, passamos para a era cognitiva, onde a inteligência analítica e o raciocínio se tornaram as principais vantagens competitivas.

Agora, com a ascensão da inteligência artificial, estamos diante de um movimento paradoxal: enquanto as máquinas assumem as tarefas do “cérebro”, os trabalhos que envolvem corpo, presença e humanidade ganham ainda mais valor.

Profissões como enfermeiros, carpinteiros, designers, encanadores e massoterapeutas podem se tornar ainda mais centrais. Não apenas porque a IA não consegue replicar suas habilidades manuais e relacionais, mas porque esses trabalhos carregam algo que nenhuma máquina pode substituir: a experiência humana direta.


Limitações Fundamentais da IA

Mesmo com avanços impressionantes, a IA ainda esbarra em barreiras difíceis de superar:

  • Falta de compreensão contextual: sabe o que algo é, mas não entende por que importa.
  • Ausência de senso comum: não tem uma base intuitiva para lidar com situações novas.
  • Percepção fragmentada: integra visão, som e texto de forma limitada.
  • Sem “bússola interna”: não possui auto-orientação para se reajustar sozinha.

Isso significa que, embora possa superar humanos em velocidade de cálculo ou análise de dados, a IA continua distante de competir em termos de adaptabilidade real.


Oportunidade Para Reimaginar o Valor do Trabalho

O impacto da inteligência artificial no emprego não precisa ser visto apenas como ameaça. Ele também abre espaço para uma revalorização das habilidades humanas.

Em vez de lutar contra a automação em áreas onde a IA é claramente superior, talvez a chave esteja em investir naquilo que ela não pode replicar:

  • Trabalhos físicos e manuais que exigem presença e destreza.
  • Interações humanas baseadas em empatia, cuidado e confiança.
  • Criatividade aplicada em contextos imprevisíveis.
  • Capacidade de adaptação em ambientes em constante mudança.

Conclusão: O Futuro É Mais Humano Do Que Imaginamos

Ao contrário do medo de que a IA acabará com todos os empregos, o que estamos vendo é uma transformação paradoxal. Quanto mais a tecnologia avança no campo cognitivo, mais valorizadas se tornam as habilidades físicas, relacionais e contextuais.

Se Geoffrey Hinton estiver certo, talvez o futuro do trabalho esteja menos em competir com máquinas e mais em redescobrir o valor do que nos torna humanos.

No fim das contas, a maior oportunidade não é apenas sobreviver à era da IA, mas redefinir o que significa ser humano e valioso em um mercado de trabalho em constante mudança.

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Com mais de 200 palestras online e offline em 2021 para clientes no Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa, o Andrea é hoje um dos palestrantes sobre Transformação Digital, Liderança, Inovação e Soft Skills mais requisitados a nível nacional e internacional. Ele já foi diretor do Tinder na América Latina por 5 anos, e Chief Digital Officer na L’Oréal, e hoje é também escritor best-seller e professor do MBA Executivo da Fundação Dom Cabral

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